sexta-feira, 6 de maio de 2011

A DISTÂNCIA

a partir de uns cartões distribuídos numas pontes do Recife... Um louco rapaz segurava uma placa onde se lia "Qual a distância da saudade?" e abaixo vinha um email para respostas. Guardada a pergunta, esquecido o email



A DISTÂNCIA
- Falta muito?
- Tá chegando...
- Ainda?
- Tá chegando...
- De novo?
- Sempre!
Pela janela do trem, o tempo passa de revés. Relatividade tem de ter sido deduzida num trem de beira do rio Doce. Muito saculejo na cabeça dá nisso.
- Ainda tá longe?
- Um dia chega...
- É antes ou depois daquele morro?
- É antes do que eu morro...
Trem segue pra lá, rio desce pra cá, tempo corre pronde? E o guardado do tempo, escorre? Cai de lado? Em que margem do rio tenho que estar pra pescar lembrança? Mas se eu trocar de margem, fisgo lembrança de amanhã? O Doce é marrom, chuva já foi mas com barro foi cotejando no beiral da encosta, chegou marrom no leito. Chuva torna a ser, clara. Onde fica o barro recolhido?
- De novo esta curva?
- É outra...
- Como que você sabe se vira igual?
- Não sei, mas a tonteira é outra?
- Parece que não sai do lugar, sai?
- Só pra poder voltar...
Dormente de trem parece dormido, mas trilho eu asseguro que é sujeito direito, reto. Leva sempre. Mas trilho tem final? Eles se juntam lá nesse? Tem uns que leva e traz, é só trocar o lado do foguista. Quando de eu ir, passei por uma mangueira carregada, aguei. Foi chegar e procurar um pé. Em que pé eu subi? Não é a mesma manga do caminho? Essa quem plantou? Ou é a mesma, que o tempo plantou. Sei uns que comeram, mas num vi quem plantou. Os de depois terão o de comer?
- Falta muito?
- Só um tempo...
- Tempo nunca é só! Falta.
- Acho até que o tempo é só...
- E chega onde?
- Tá vendo aquele abraço?
- Daqui parece pequeno...
- Pois é ali que chega.
- E qual a distância?
- Um metro depois da saudade!

and it keep on shining

VESTIR (sunshine)

No ocaso,
o dia de púrpuro
veste
a janela azul;
seios e ilhas
contornam
um horizonte desfocado.
Solene,
visto-me
de tua pele.